Vocês se lembram do Palm Foleo — aquele que “se foi sem nunca ter vindo?”
Explicando melhor: em 2007, a Palm Inc. (hoje incorporada à HP) anunciou um produto audacioso, que se apresentava como um “smartphone companion”, chamado Palm Foleo. Concebido para fornecer um teclado amplo e uma tela generosa aos donos da linha de smartphones Treo, o Foleo parecia um laptop, mas exigia um Palm Treo para funcionar, rodando os mesmos aplicativos móveis compatíveis com o PalmOS. Ninguém entendeu o conceito; o projeto foi mal recebido pela comunidade de usuários e tão criticado pelos entusiastas de tecnologia que foi abortado antes mesmo de chegar no mercado. Detalhe: já havia algumas dezenas de milhares de unidades prontas para as lojas. Preferindo amargar um prejuízo a um fracasso retumbante, o dispositivo passou a ser chamado “Fooleo”, e realmente: é aquele que se foi sem nunca ter vindo.
Agora temos projeto semelhante catapultado pela Motorola: o smartphone Atrix e seus acessórios: um dock estilo PC (webtop) e outro estilo laptop (lapdock).
Funcionam assim: o smartphone faz o papel de CPU. Ao encaixá-lo no lapdock, é possível acessar o mesmíssimo ambiente do celular. Mas também um ambiente à parte, com um player de mídia, gerenciador de arquivos e um browser completo. Não, não é o Chrome… paradoxalmente é o Firefox. Gerencia-se o Atrix pelo lapdock do mesmo jeito de sempre: acessando pastas de arquivos, executando aplicativos e até instalando novos! Com um processador dual-core e 1 GB de RAM, nos testes o Atrix mostrou que tem fôlego para aguentar o tranco. É um laptop rodando Android. Portanto, lembre-se: não é um notebook convencional.
A janela “tela do celular”, na foto acima, pode ser maximizada para ocupar o monitor todo; uma mão na roda para quem não enxerga bem de perto. Escrever emails ou textos com fontes grandes é de um conforto visual inigualável para quem tem acuidade limitada.
Com o dock, ou “webtop”, como foi batizado, é a mesma coisa, só que simulando um computador de mesa. Basta plugar à base um monitor, um teclado e um mouse. O Atrix é encaixado nesta base e tem-se o mesmo ambiente do lapdock. Um PC de mesa rodando Android! O dock possui 3 entradas USB para os periféricos, mas quem preferir pode usar teclado e mouse bluetooth, pareando-os com o smartphone. Acompanha ainda um controle remoto pra controle das funções multimídia.
Quem compra o Atrix não precisa necessariamente comprar o dock ou o lapdock. Sozinho, ele custa, em média, R$ 1.800, mas por R$ 2.000 é possível adquiri-lo junto com o webtop — valores sem subsídio de operadoras. Já o conjunto do Atrix com o lapdock sai por cerca de R$ 2.600, também avulso de planos de operadoras.
Para quem eu recomendo o Atrix e seus acessórios? Para o profissional de alta mobilidade que não quer depender da “nuvem” ou de internet móvel para tudo. Todos os arquivos ficam salvos no próprio celular. Músicas, filmes, documentos… arquivos do Office podem ser acessados e editados no próprio Android ou com ajuda dos acessórios. Basta que se adquira uma suíte Office móvel para a plataforma. O Atrix vem com visualizador de arquivos nativo, mas é possível fazer upgrades pagos, como o Documents To Go Premium. Trabalha-se offline numa boa.
Aliás, um adendo: sempre trabalhei de modo offline com meus PDAs desde 2001, bastando um teclado. Com a explosão dos OS móveis modernos, como iOS e do Android, fomos incondicionalmente empurrados para a nuvem. Trabalhar com o Atrix, o dock e o lapdock, sem precisar de 3G ou dos Dropbox da vida, resgata a sensação de que os arquivos são “seus” de verdade.
Para o escritor itinerante, o sistema Atrix e dock (ou lapdock), com um teclado confortável, é perfeito. Quem trabalha direto com planilhas, então, vai simplesmente amar visualizá-las num monitor grande. Já com as apresentações, é preciso tomar cuidado com as incompatibilidades. Quem as cria em Windows e salva direto no smartphone, verá que na hora de executá-la, formatações são perdidas e fontes trocadas. Um problema que nada tem a ver com o aparelho, e sim dos aplicativos, que mostram-se, em boa parte, ainda imaturos no sistema móvel do Google. De sua parte, o Atrix abriu planilhas de 8 MB, PDFs de 40 MB e apresentações de 60 MB sem engasgar. Um assombro para quem lida com esses tipos de documentos desde a época dos primeiros Palms!
Perto do Blackberry, com sua rede eficiente, estável e segura, e do iPhone, com sua gama generosa de aplicativos profissionais de nicho, o Android era o mais fraquinho para quem buscava um dispositivo móvel essencialmente para trabalho. Não há como negar que, com o dock ou o lapdock, o profissional móvel passa a ver o Atrix com outros olhos.
Resta saber se as pessoas estão prontas para essa nova forma de trabalhar. Será que o lapdock do Atrix será um novo Palm Foleo? O mais incrível é que esse conceito de “smartphone companion” também dá o ar da sua graça na dupla Blackberry-Playbook. Fiquemos de olho nos números das vendas. Tenho grande curiosidade para saber se desta vez os consumidores entenderão o conceito. E descobrir se quem mudou de 2007 pra cá foi a tecnologia móvel ou as pessoas.
Nas imagens acima, um rol de “companions”: acima à esquerda, Palm Foleo e à direita, Atrix e lapdock. Abaixo, Blackberry e Playbook.
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